A eficiência operacional e os preços competitivos das gigantes do setor têm levantado questões sobre o impacto que sua expansão pode ter sobre os estabelecimentos familiares e locais. A principal preocupação entre os comerciantes é a possibilidade de uma competição desleal, na qual os recursos e a escala das redes internacionais têm mais apelo para deslocar clientes dos estabelecimentos locais, resultando em redução nas receitas e até mesmo na falência dos pequenos negócios.
Roberto Kanter, economista e professor de MBA da Fundação Getúlio Vargas (FGV), diz que é costume no Brasil pensar que a força da economia está nas grandes empresas, quando na verdade ela é impulsionada por pequenos negócios. “Claro que tem um impacto grande, tanto em termos de renda como em termos sociais. Se você tem cadeias de lojas mais automatizadas, mais profissionais, acaba fechando empresas mais tradicionais, conservadoras e familiares”, salienta o economista.
Kanter também destaca que é mais difícil inovar dentro de empresas familiares porque muitas são constituídas por imigrantes. A segunda ou terceira geração já tem curso universitário e muitas vezes não quer assumir o pequeno comércio da família. Além disso, muitos donos de mercados locais estão na terceira idade, próximos de se aposentar. Pessoas mais jovens tendem a ser empreendedoras em diversas áreas dentro do varejo, com olhar de crescimento e expansão do empreendimento.
O economista explica ainda que os mercados locais sempre serão valorizados, pois impulsionam a economia independentemente da cidade onde estão localizados, mas precisam se reinventar se quiserem evitar a falência, enquanto seguem perdendo espaço para empresas como Mini Extra, OXXO, Carrefour Express, Minuto Pão de Açúcar, entre outras.
Se fala “Ó-QUIS-SÔ” e tá sempre próximo
“Tem um em cada esquina”, o que também é verdade. As lojas de conveniência mexicana OXXO tomaram as esquinas de São Paulo. O local abriga desde cafézinho com pão de queijo até a venda de pacotes de papel higiênico.
No México, por exemplo, algumas lojas da OXXO oferecem até mesmo lotéricas. As pessoas conseguem fazer de tudo em um só lugar e, para mercadinhos antigos, tanta diversidade de serviços pode não ser fácil de promover. No ano passado, a OXXO resolveu expandir e prometeu abrir mais 210 unidades até o fim de 2023. Em 2022, o faturamento das lojas cresceu 44%. Mas há um porém: a cada Oxxo que abre, cinco a sete pequenos mercados fecham no México, segundo estudo da Associação dos Comerciantes do estado de Aguascalientes, no México.
Ainda de acordo com o relatório, em 2020 a Aliança Nacional dos Pequenos Comerciantes (ANPEC) disse que, até o final do ano, mais de 300 mil empresas acabaram fechando as portas definitivamente, enquanto as lojas OXXO abriram 343 estabelecimentos no México. Após a COVID-19 a situação se agravou, já que as vendas caíram em 50%.
Além das consequências econômicas diretas, a presença dessas grandes redes pode também afetar a diversidade de produtos e serviços disponíveis na comunidade. A mudança nas cadeias de suprimentos para atender aos padrões das grandes redes pode impactar negativamente os fornecedores locais, que antes atendiam às necessidades dos estabelecimentos locais.
O economista da FGV diz que os bairros permanecem iguais e o que muda é o dono do negócio. O conceito de bairro permanece cada vez mais forte e vai continuar impulsionando a expansão das grandes redes, que prometem conveniência e variedade para os consumidores.
“Comércios locais que tentam evitar a falência precisam de muito relacionamento, cuidado, curadoria de produtos. Há que se priorizar a conveniência, entregando o que importa, trazendo produtos novos, serviços novos e também pesquisando junto às lojas de conveniência e pequenos mercados para descobrir o que eles não têm, desenvolver uma estratégia de social setting”, finaliza o economista.
O Global ESG tentou entrar em contato com a OXXO, mas até a publicação da matéria não obtivemos respostas.