No palco do Global Meeting – Circuito COP30: Simpósio de Economia Circular e Cadeias Produtivas Sustentáveis, realizado no Complexo Na Praia (Brasília), o coordenador executivo da Comissão Nacional para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (CNODS), Thiago Galvão, destacou a urgência da crise climática e a necessidade de articulação democrática para enfrentá-la.
“Retomar a comissão foi desafiador, mas indispensável para recolocar governo e sociedade no mesmo propósito”, afirmou, lembrando que o colegiado havia sido extinto em 2019 e foi recriado em 2023 como espaço paritário de diálogo.
Segundo Galvão, a CNODS reúne 84 representações — 42 do governo e 42 da sociedade civil — e instituiu câmaras temáticas para ampliar a capacidade de atuação sobre temas urgentes.
“Nossa comissão está aberta para receber interessados. Os ODS são a linguagem comum capaz de unir universos que falam idiomas diferentes, do setor empresarial às comunidades tradicionais”, disse.
Justiça climática: desigualdade nas causas e nos impactos
O coordenador frisou que a crise climática já é uma realidade que “está matando pessoas e destruindo condições de vida no presente”, mas não afeta todos de forma igual.
“Os 10% mais ricos do mundo emitem quase metade dos gases de efeito estufa, enquanto os 10% mais pobres emitem menos de 1%”, alertou, classificando essa disparidade como o eixo central da justiça climática.
Ele lembrou que, ao discutir produção e consumo responsáveis (ODS 12), é preciso reconhecer padrões de consumo radicalmente diferentes entre classes sociais.
“A responsabilidade individual importa, mas deve ser vista dentro do lugar social que cada um ocupa”, reforçou.
ODS 18: um marco brasileiro
Galvão destacou o protagonismo do Brasil ao adotar voluntariamente o ODS 18 – Igualdade Étnico-Racial, anunciado pelo presidente na Assembleia Geral da ONU. Construído de forma coletiva, o objetivo possui identidade visual criada pela jovem Brenda, de 18 anos, além de metas e indicadores específicos.
“Nunca havíamos incluído a dimensão étnico-racial no centro do desenvolvimento sustentável. O ODS 18 é um passo histórico para mudar políticas públicas e enfrentar desigualdades estruturais”, explicou.
Na Conferência Nacional de Igualdade Racial (FONAPIR) será assinada a portaria que institucionaliza o ODS 18, em ato conjunto dos ministérios da Igualdade Racial, da Secretaria-Geral e de Povos Indígenas.
“É um instrumento normativo que dará segurança para governos e sociedade”, completou.
Financiamento e parcerias: múltiplas formas de viabilizar a agenda
Sobre o financiamento ao desenvolvimento sustentável, Galvão recordou sua participação na 4ª Conferência Internacional de Financiamento ao Desenvolvimento (Sevilha) e destacou que a governança da agenda exige articulação complexa entre governo, empresas, academia, organismos internacionais e sociedade civil.
“Não se trata apenas de aporte direto de recursos: apoio técnico, metodologias e cooperação internacional são também formas de financiar o desenvolvimento”, disse.
Ele citou como parceiros estratégicos Banco do Brasil, Caixa, BNDES, Banco do Nordeste, além de IPEA, IBGE, Fiocruz, PNUD e UNFPA.
“O apoio de Itaipu Binacional tem sido crucial para consolidar projetos estruturantes”, acrescentou.
Galvão observou ainda o desequilíbrio atual no financiamento climático: quase 90% dos recursos internacionais são destinados à mitigação, enquanto a adaptação recebe muito pouco, apesar de já haver populações morrendo devido a eventos extremos.
“Meu Município pelos ODS”: foco nos territórios
Com mais de 5 mil municípios brasileiros, sendo 90% com menos de 100 mil habitantes, Galvão destacou a urgência de levar a agenda ao nível local.
“Enquanto não focarmos no ‘zoom in’, nas cidades, a urgência não se concretizará”, afirmou.
Ele apresentou o programa “Meu Município pelos ODS”, coordenado por Marina, que já reúne mais de 100 cidades de diferentes regiões. O pacto envolve relatórios locais voluntários, alinhamento do planejamento municipal aos ODS e ações de capacitação.
“É no território que os ODS ganham vida — e onde precisamos priorizar a ação”, destacou.
O coordenador reforçou que o desenvolvimento sustentável tem diferentes sentidos para povos indígenas, comunidades tradicionais e quilombolas. Por isso, a CNODS criou câmaras temáticas específicas para esses grupos, garantindo que suas visões orientem políticas.
Democracia como base
Em sua conclusão, Galvão reiterou que a democracia é condição para que a agenda avance:
“Não há nada hoje mais importante — nenhuma economia verde, nenhum negócio, nenhuma justiça social — que possa prosperar fora da democracia. Nossa missão é fazer dos últimos anos até 2030 os melhores e mais justos anos de implementação dos ODS no Brasil.”
Contexto institucional do evento
O Global Meeting – Circuito COP30 é uma realização do Instituto Global ESG, em parceria com a Embrapa e o Grupo R2. Conta com patrocínio da Caixa Econômica Federal, fomento do Grupo Arnone e apoios interinstitucionais de órgãos públicos, empresas, movimentos sociais e instituições científicas. O simpósio integra a agenda preparatória da COP30, em Belém (2025), consolidando o Brasil como protagonista em economia circular, cadeias produtivas sustentáveis e governança climática.