Investimentos verdes precisam chegar à ponta: Giancarlo Gama destaca papel dos municípios e catadores

No Global Meeting, gerente de projetos da Presidência da República alerta para urgência climática, cobra equilíbrio entre mitigação e adaptação e defende valorização dos catadores na economia circular

20/09/2025 19h03 - Atualizado há 2 dias

O Global Meeting – Circuito COP30: Simpósio de Economia Circular e Cadeias Produtivas Sustentáveis, realizado no Complexo Na Praia (Brasília) e transmitido pelo Poder360 e pela TV Global ESG no YouTube, contou com a palestra de Giancarlo Gama, gerente de projetos e coordenador da Comissão de Assuntos Econômicos do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável da Presidência da República (CDESS/PR).

 

Cientista político formado pela USP e mestre em Políticas Públicas pela Universidade de Oxford, Gama destacou a urgência climática, a desigualdade das emissões globais, o protagonismo do Brasil na agenda de finanças verdes e os desafios de levar a ação para o nível local.

 

 

Justiça climática: desigualdade de responsabilidades e impactos

Logo no início, Giancarlo chamou atenção para o caráter desigual da crise climática.

 

Os 10% mais ricos emitem quase metade das emissões globais que causam os efeitos das mudanças climáticas, enquanto os 10% mais pobres emitem nem 1%.

 

Ele lembrou que, embora todos sejam impactados, a intensidade varia conforme renda e posição social:

 

A crise climática não é causada da mesma forma por todos nós, e também não impacta da mesma forma todos nós”.

 

Para o gestor, esse olhar é essencial para guiar políticas de justiça climática.

 

 

Protagonismo do Brasil e portfólio de investimentos verdes

Giancarlo apresentou o trabalho em curso no Conselhão, órgão de assessoramento direto à Presidência da República, composto por 286 membros. Entre os projetos, destacou o mapeamento de um portfólio de investimentos verdes, em parceria com a Open Society e a Cepal (ONU), que já soma cerca de R$ 430 bilhões em aportes públicos e privados.

 

Nós, enquanto nação, temos um protagonismo não só na matriz elétrica e energética, mas também com relação ao acesso a recursos naturais e à capacidade de liderar uma nova economia verde.

 

Segundo ele, o Brasil se posiciona de forma estratégica às vésperas da COP30, em Belém, para liderar a discussão global com base na urgência da transição.

 

 

Governança climática: do global ao local

Apesar do protagonismo internacional, o palestrante foi enfático sobre os gargalos internos.

 

Enquanto a gente não focar no zoom in, no local, nas cidades, infelizmente, a urgência que nós precisamos para o combate às mudanças climáticas não vai se concretizar.

 

O Brasil, lembrou, tem mais de 5 mil municípios, sendo que 90% deles têm menos de 100 mil habitantes.

 

A pauta climática não está na ordem do dia da maioria dos gestores públicos locais”, alertou, apontando um desafio estrutural de governança climática.

 

 

 

Mitigação x adaptação: o desequilíbrio dos recursos

Gama também criticou a distribuição desigual dos recursos internacionais:

 

Quase 90% do financiamento climático vai para mitigação, mas pouquíssimo vai para adaptação — e tem gente morrendo hoje pelos efeitos das mudanças climáticas.

 

Ele reforçou que sem destinar verbas significativas para adaptação, o país continuará a falhar em proteger as populações mais vulneráveis.

 

 

Catadores no centro da nova economia circular

Ao relacionar justiça social e economia circular, Giancarlo foi incisivo:

 

Não tem como a gente pensar em investimento verde, não tem como repensar cadeias produtivas, sem pensar na condição de trabalho dos catadores.

 

Para ele, é necessário ir além do reconhecimento discursivo: é preciso investir em recursos, infraestrutura e melhores condições de trabalho para esse grupo que está “na ponta das cidades” e garante resultados concretos de regeneração e circularidade.

 

 

Contexto institucional do evento

O Global Meeting – Circuito COP30 é uma realização do Instituto Global ESG, em parceria com a Embrapa e o Grupo R2. Conta com o patrocínio da Caixa Econômica Federal, o fomento do Grupo Arnone e apoio interinstitucional de órgãos públicos, empresas, movimentos sociais e instituições científicas. O simpósio integra a agenda preparatória da COP30, consolidando o Brasil como protagonista em economia circular, cadeias produtivas sustentáveis e governança climática.


Notícias Relacionadas »
Fale com a gente pelo Whatsapp
Atendimento
Precisa de ajuda? Escreva o que precisa