O Global Meeting – Circuito COP30: Simpósio de Economia Circular e Cadeias Produtivas Sustentáveis, realizado no Complexo Na Praia (Brasília) e transmitido pelo Poder360 e pela TV Global ESG no YouTube, contou com a palestra de Giancarlo Gama, gerente de projetos e coordenador da Comissão de Assuntos Econômicos do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável da Presidência da República (CDESS/PR).
Cientista político formado pela USP e mestre em Políticas Públicas pela Universidade de Oxford, Gama destacou a urgência climática, a desigualdade das emissões globais, o protagonismo do Brasil na agenda de finanças verdes e os desafios de levar a ação para o nível local.
Justiça climática: desigualdade de responsabilidades e impactos
Logo no início, Giancarlo chamou atenção para o caráter desigual da crise climática.
“Os 10% mais ricos emitem quase metade das emissões globais que causam os efeitos das mudanças climáticas, enquanto os 10% mais pobres emitem nem 1%.”
Ele lembrou que, embora todos sejam impactados, a intensidade varia conforme renda e posição social:
“A crise climática não é causada da mesma forma por todos nós, e também não impacta da mesma forma todos nós”.
Para o gestor, esse olhar é essencial para guiar políticas de justiça climática.
Protagonismo do Brasil e portfólio de investimentos verdes
Giancarlo apresentou o trabalho em curso no Conselhão, órgão de assessoramento direto à Presidência da República, composto por 286 membros. Entre os projetos, destacou o mapeamento de um portfólio de investimentos verdes, em parceria com a Open Society e a Cepal (ONU), que já soma cerca de R$ 430 bilhões em aportes públicos e privados.
“Nós, enquanto nação, temos um protagonismo não só na matriz elétrica e energética, mas também com relação ao acesso a recursos naturais e à capacidade de liderar uma nova economia verde.”
Segundo ele, o Brasil se posiciona de forma estratégica às vésperas da COP30, em Belém, para liderar a discussão global com base na urgência da transição.
Governança climática: do global ao local
Apesar do protagonismo internacional, o palestrante foi enfático sobre os gargalos internos.
“Enquanto a gente não focar no zoom in, no local, nas cidades, infelizmente, a urgência que nós precisamos para o combate às mudanças climáticas não vai se concretizar.”
O Brasil, lembrou, tem mais de 5 mil municípios, sendo que 90% deles têm menos de 100 mil habitantes.
“A pauta climática não está na ordem do dia da maioria dos gestores públicos locais”, alertou, apontando um desafio estrutural de governança climática.
Mitigação x adaptação: o desequilíbrio dos recursos
Gama também criticou a distribuição desigual dos recursos internacionais:
“Quase 90% do financiamento climático vai para mitigação, mas pouquíssimo vai para adaptação — e tem gente morrendo hoje pelos efeitos das mudanças climáticas.”
Ele reforçou que sem destinar verbas significativas para adaptação, o país continuará a falhar em proteger as populações mais vulneráveis.
Catadores no centro da nova economia circular
Ao relacionar justiça social e economia circular, Giancarlo foi incisivo:
“Não tem como a gente pensar em investimento verde, não tem como repensar cadeias produtivas, sem pensar na condição de trabalho dos catadores.”
Para ele, é necessário ir além do reconhecimento discursivo: é preciso investir em recursos, infraestrutura e melhores condições de trabalho para esse grupo que está “na ponta das cidades” e garante resultados concretos de regeneração e circularidade.
Contexto institucional do evento
O Global Meeting – Circuito COP30 é uma realização do Instituto Global ESG, em parceria com a Embrapa e o Grupo R2. Conta com o patrocínio da Caixa Econômica Federal, o fomento do Grupo Arnone e apoio interinstitucional de órgãos públicos, empresas, movimentos sociais e instituições científicas. O simpósio integra a agenda preparatória da COP30, consolidando o Brasil como protagonista em economia circular, cadeias produtivas sustentáveis e governança climática.