O Global Meeting – Circuito COP30: Simpósio de Economia Circular e Cadeias Produtivas Sustentáveis, realizado no Complexo Na Praia, em Brasília, com transmissão ao vivo pelo Poder360 e pela TV Global ESG no YouTube, foi palco de uma palestra instigante da pesquisadora Simone Mendonça, doutora em saúde pública, especialista em aproveitamento de coprodutos e resíduos, caracterização de biomassa e membro do Portfólio de Economia Verde da Embrapa.
O evento, co-realizado pelo Instituto Global ESG, Embrapa e Grupo R2, com patrocínio da Caixa Econômica Federal e fomento do Grupo Arnone, reuniu lideranças públicas, empresariais, acadêmicas e da sociedade civil para alinhar soluções estratégicas rumo à COP30, que acontecerá em Belém (PA), em 2025.
Logo no início de sua fala, Simone destacou a importância da governança de pesquisa e inovação da Embrapa, estruturada em nove objetivos estratégicos (sete técnicos e dois de gestão), entre os quais a bioeconomia e a economia circular ocupam papel central.
“Dentro do portfólio de economia verde, tratamos de bioprodutos, bioinsumos e bioenergia. Nosso papel é fomentar, apoiar e avaliar iniciativas que promovam não apenas inovação tecnológica, mas também inclusão social e melhor aproveitamento dos biomas brasileiros”, afirmou.
Entre os exemplos mais contundentes, a pesquisadora citou os bioinsumos como um caso emblemático de impacto econômico e climático.
“O inoculante microbiano que permite à soja fixar nitrogênio gerou, só na safra de 2024, uma economia de 25 bilhões de dólares em fertilizantes importados e evitou a emissão de 230 milhões de toneladas equivalentes de CO₂. É soberania nacional, é inovação e é sustentabilidade em escala”, destacou.
A relevância do tema foi reconhecida internacionalmente com o prêmio mundial recebido pela pesquisadora da Embrapa, Maria Angeline Nguia, pelo trabalho pioneiro com bioinsumos.
Simone ressaltou ainda que a economia circular é parte intrínseca da bioenergia e da valorização de coprodutos, trazendo como exemplo a cadeia do dendê.
"Essa cadeia gera muito mais resíduo do que óleo. Se não dermos destino inteligente a esses coprodutos, o processo não se sustenta”, explicou.
Ela apresentou resultados de pesquisas que vão desde a produção de biodiesel a partir de óleos de alta acidez, até o aproveitamento de resíduos em etanol de segunda geração, carotenos para alimentos, biogás, cultivo de cogumelos e nanofibras de celulose para reforço de borracha e embalagens substitutas de plástico.
“Planejar a circularidade desde a origem é transformar passivos em valor”, reforçou.
Com olhar crítico, a pesquisadora também abordou a gestão da água e dos recursos naturais em cenários de escassez climática.
“A nossa abundância é o que nos enfraquece. Quando temos muito, usamos e descartamos. Precisamos aprender a valorizar cada recurso, cada gota de água, cada biomassa”, disse, destacando o desenvolvimento de materiais genéticos adaptados a estresses abióticos como seca, calor e salinidade.
A fala se voltou, ainda, para a temporalidade da inovação científica.
“A Embrapa pesquisa não a ciência do hoje, é a do amanhã. Projetos disruptivos podem levar 15 ou 20 anos até gerarem resultados, e por isso a instituição precisa de financiamento próprio e estável. Sem essa base, corremos o risco de não avançar em agendas estratégicas que só uma instituição pública pode manter de pé”, declarou.
Ao encerrar, Simone Mendonça reforçou o convite a parcerias com o setor privado para levar ao mercado tecnologias que hoje se encontram em níveis de maturidade entre TRL 3 e 4.
“A Embrapa está aberta a cooperações. Muitas das soluções que desenvolvemos só chegarão ao produtor, à indústria e ao consumidor final se houver pontes com empresas e investidores. O futuro sustentável depende dessa integração”, concluiu, sob aplausos da plateia.