Aline Sousa defende reconhecimento aos catadores e educação ambiental “para ontem” no Global Meeting

Catadora de terceira geração e estudante de Direito apresenta o caso da Rede Centcoop no DF, cobra remuneração justa na logística reversa e convoca a sociedade ao sistema de três lixeiras

20/09/2025 13h29 - Atualizado há 2 dias

O Global Meeting – Circuito COP30: Simpósio de Economia Circular e Cadeias Produtivas Sustentáveis, realizado no Complexo Na Praia (Brasília) e transmitido pelo Poder360 e pela TV Global ESG no YouTube, foi marcado por uma fala forte e mobilizadora de Aline Sousa — ex-diretora-presidente da Centcoop, representante do Movimento Nacional dos Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis e integrante da Secretaria da Mulher e Juventude da Unicatadores.


Filha e neta de catadoras, catadora de terceira geração e hoje estudante de Direito, Aline trouxe ao palco uma narrativa que mesclou história de vida, dados sobre o setor, denúncias de gargalos e propostas concretas.

 

Não há circularidade sem o reconhecimento dos catadores, das catadoras”, resumiu, arrancando aplausos da plateia.

 

 

Catadores: protagonismo invisibilizado

Aline iniciou sua fala destacando a força feminina na base da reciclagem: 72% dos catadores do Distrito Federal são mulheres, proporção próxima ao índice nacional de 80%.

Proteger quem está protegendo a nossa sociedade, que são os catadores e as catadoras”, afirmou, lembrando que essa realidade é fruto de gerações de trabalho duro e pouco reconhecido.

 

Segundo ela, há hoje cerca de 1 milhão de catadores no Brasil, sendo 3 mil apenas no Distrito Federal, organizados em aproximadamente 40 cooperativas.

 

A gente é uma exceção no Brasil, o que está na questão da estruturação da gestão de resíduos”, reforçou, apontando Brasília como vitrine nacional de políticas públicas que incluíram catadores.

 

Centcoop: infraestrutura e modelo de referência

Ex-diretora-presidente da Centcoop, Aline apresentou um vídeo e relatou a experiência do complexo da rede, que reúne 21 cooperativas afiliadas e 1.008 catadores.

  • O complexo abriga 11 cooperativas, com 440 trabalhadores diários em dois turnos.
  • Em apenas um ano de operação, foram processadas 11 mil toneladas de recicláveis.
  • Desde 2016, quando o Governo do Distrito Federal passou a contratar cooperativas, a rede cresceu de 4 para 50 contratos com o SLU, cobrindo quase 23 das 35 cidades do DF.
  • Em algumas rotas, o índice de qualidade do resíduo coletado chegou a 90%.

 

Visitar uma cooperativa inspira e motiva a fazer a coleta seletiva em casa”, convidou, sublinhando o valor pedagógico e social desses espaços.

 

Gargalo: resíduo de má qualidade e sucateamento

Apesar do avanço institucional, Aline apontou um problema crítico: a baixa qualidade do resíduo recebido.

 

Todos os governos vão investir em cooperativas de catadores e elas sempre estarão sucateadas pela falta do resíduo de qualidade”, disse.

 

Dados apresentados mostraram que:

 

  • As três grandes empresas de logística, que respondem por 90% do volume enviado às unidades, entregam apenas 43% de resíduo aproveitável.
  • As cooperativas que fazem coleta seletiva direta ficam com apenas 10% do volume, mas de alta qualidade.

 

Aline lembrou que esse cenário compromete a saúde das trabalhadoras — em sua maioria mulheres —, danifica os equipamentos, gera desperdício de milhões em infraestrutura e enfraquece a cadeia da reciclagem.

 

Mudança de hábito, ela se faz necessária e para ontem”, afirmou, defendendo campanhas contínuas e massivas de educação ambiental.

Justiça social e logística reversa

Em outro momento, Aline denunciou a exclusão dos catadores dos fluxos de remuneração da logística reversa.

 

Quando se trata de gestão eficiente de resíduos e uma busca por uma cidade sustentável e resiliente, a gente está falando de todos nós juntos nessa”, afirmou.

 

Segundo ela, metas de recuperação de embalagens de 50%, 60% ou 70% só terão legitimidade se a remuneração chegar diretamente às mãos de quem pega a embalagem no lixo, processa na cooperativa e entrega à indústria.

 

O orgânico não é lixo. O orgânico, ele é insumo”, complementou, defendendo a valorização de cada fração dos resíduos como insumo para a economia circular.

 

Ao falar de sua decisão de estudar Direito, ela explicou:

O conhecimento prático é fundamental, mas em mesas de negociação precisamos também da base acadêmica. É com essa combinação que vamos conquistar a dignificação do nosso trabalho.

 

 

Educação ambiental e guia prático: três lixeiras

Aline encerrou sua fala propondo um gesto simples, mas poderoso: o sistema das três lixeiras em casa.

  1. Reciclável/Seco — plásticos, papéis, metais, vidros limpos e secos.
  2. Orgânico — restos de alimentos, que podem virar adubo, biogás e novos insumos.
  3. Rejeito — o que não tem reaproveitamento imediato, destinado ao aterro.

Ela fez dois alertas:

 

  • Não misturar orgânico com reciclável, para não contaminar e inviabilizar a reciclagem.
  • Não misturar orgânico com rejeito, para não gerar metano nos aterros e agravar a crise climática.

 

O planeta não tem mais esse tempo”, afirmou, convocando a plateia a assumir responsabilidade compartilhada.

 

 

Reconhecimento e cidadania ambiental

Aline celebrou o legado do Distrito Federal — fechamento do lixão, abertura do aterro, plano integrado, estruturação e contratação das cooperativas. Mas deixou claro que o futuro depende de dois movimentos:

  1. Campanhas permanentes de educação ambiental e adesão da população.
  2. Pagamento justo aos catadores nos sistemas de logística reversa.

 

Não há circularidade sem o reconhecimento dos catadores, das catadoras”, concluiu.

 

 

Contexto institucional do evento

O Global Meeting – Circuito COP30 é uma realização do Instituto Global ESG, em parceria com a Embrapa e o Grupo R2. Conta com o patrocínio da Caixa Econômica Federal, o fomento do Grupo Arnone e o apoio interinstitucional de órgãos públicos, empresas, movimentos sociais e instituições científicas. O simpósio integra a agenda preparatória da COP30, em Belém (2025), consolidando o Brasil como protagonista em economia circular, cadeias produtivas sustentáveis e governança climática.

 


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