Em um discurso firme, recheado de dados, exemplos práticos e apelos emocionais, o chairman do Grupo Arnone, sócio nominal da Arnone Advogados e presidente do Instituto Global ESG, Alexandre Arnone, abriu oficialmente o Global Meeting – Circuito COP30 | Edição Especial – Na Praia: Simpósio de Economia Circular e Cadeias Produtivas Sustentáveis.
O encontro, que integra o calendário preparatório da COP30, em Belém, já se consolidou como um dos principais fóruns de articulação em ESG no Brasil. Reunindo lideranças políticas, empresariais, acadêmicas e sociais, o evento foi descrito por Arnone como “um espaço inspirador onde se constroem redes, se desenham soluções e se inspiram ações concretas capazes de mudar trajetórias”.
Cuidar de pessoas como princípio
Antes de entrar nos aspectos técnicos, o anfitrião fez questão de situar a prioridade do Instituto Global ESG:
“O mais importante em todas as nossas ações é cuidar de pessoas. Esse é o foco central do Instituto e de tudo o que fazemos junto às nossas parcerias. Sem vocês presentes, nada do nosso trabalho teria sentido.”
Arnone agradeceu nominalmente os parceiros que viabilizaram o encontro: a Caixa Econômica Federal, patrocinadora e referência em finanças sustentáveis; a Embrapa, que há mais de 50 anos mostra ao mundo que produtividade e sustentabilidade podem caminhar juntas na agricultura tropical; e o Grupo R2, responsável pelo Complexo Na Praia, “parceiro incansável” na realização do evento.
O alerta climático: “cada dado é um chamado”
Arnone destacou que o momento global exige ação urgente. O último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) confirma que a temperatura média já subiu 1,2°C em relação à era pré-industrial.
“Pode parecer pouco, mas significa secas mais severas, eventos extremos mais frequentes — como o que vimos no Rio Grande do Sul — e perdas de biodiversidade que afetam diretamente a economia, a saúde e a segurança alimentar. Cada dado científico não é apenas estatístico; é um alerta e um chamado à ação.”
Para ele, o desafio climático reforça a necessidade de pensar a economia circular como solução não apenas ambiental, mas também econômica e social.
Do linear ao circular: “chegamos ao limite”
O presidente do Instituto Global ESG não poupou críticas ao modelo linear de produção e consumo — extrair, produzir, consumir e descartar. Segundo Arnone, esse modelo “cumpriu seu papel histórico”, mas já esgotou suas condições de continuidade.
“Recursos tornam-se escassos, a poluição avança e as mudanças climáticas cobram seu preço. A economia circular propõe outra lógica: dissociar prosperidade da extração intensiva e gerar crescimento regenerativo, inclusivo e competitivo.”
Ele reforçou que o conceito de circularidade não é abstrato, mas começa na vida cotidiana.
“Não falamos de teoria distante. A circularidade começa em casa, no que compramos, no que descartamos e em como descartamos. O reuso deve estar à frente da reciclagem. É preciso manter materiais em circulação até o fim de sua vida útil.”
Empregos verdes diante da inteligência artificial
Um ponto de conexão inesperado em sua fala foi o impacto da inteligência artificial sobre o mercado de trabalho.
“Vivemos um desemprego em várias categorias. A economia circular pode ser uma grande resposta, apoiando empresas no desenvolvimento de tecnologias capazes de criar novos empregos verdes e manter produtos em movimento”, defendeu.
Ele lembrou que, diante da substituição de postos tradicionais por algoritmos e automação, cabe ao Brasil “estruturar uma imensa campanha para geração de empregos verdes”, vinculados diretamente à economia circular.
Exemplos práticos e projetos sociais
Para mostrar que circularidade não é discurso vazio, Arnone citou iniciativas concretas em andamento. Uma delas é um projeto social em São Paulo, desenvolvido pelo Instituto Global ESG com uma artista plástica, que transforma roupas descartadas em obras de arte, gerando renda para pessoas que nem sabiam ter talento artístico.
“É a economia circular aplicada na plenitude: tiramos roupas do lixo, transformamos em arte e criamos novas fontes de renda. Esse é o futuro que queremos — prosperidade com regeneração ambiental e inclusão social.”
Dados e políticas nacionais
Arnone trouxe ainda dados do MapBiomas 2024, que apontam que entre 11% e 25% da vegetação nativa brasileira pode estar degradada ou sob risco de degradação, o que equivale a uma área de 60 a 135 milhões de hectares. “Restaurar ecossistemas não é opção; é necessidade”, advertiu.
Ele também destacou o papel da Estratégia Nacional de Economia Circular (ENEC), lançada pelo MDIC em 2024, como pilar para a transição brasileira.
“A ENEC é um arcabouço multissetorial que incentiva a bioeconomia, fortalece a logística reversa e promove a inclusão de catadores. Cabe a nós, no Instituto Global ESG, ajudar na harmonização regulatória em Brasília e nos municípios”, afirmou.
Contexto internacional e papel do Brasil
Arnone lembrou que o Brasil não parte do zero.
"Temos matriz elétrica 87% renovável, a maior biodiversidade do planeta e experiência consolidada em bioeconomia e agricultura tropical. Esses ativos nos colocam naturalmente na liderança global, se cada um fizer a sua parte.”
Ele comparou com iniciativas estrangeiras:
“A União Europeia, pelo Green Deal, assumiu ser o primeiro continente climaticamente neutro até 2050. A China avança com parques industriais de ciclo fechado. Grandes corporações redesenham produtos e logística para manter materiais em circulação. O mercado global de soluções circulares deve ultrapassar US$ 4,5 trilhões até 2030. O Brasil não pode ficar de fora desse oceano de oportunidades.”
Desafios e oportunidades
Arnone reconheceu que a transição enfrenta gargalos, como financiamento, escalabilidade tecnológica e a existência de materiais que ainda não podem ser reciclados. Mas destacou que as oportunidades são maiores.
“As oportunidades superam os desafios. Temos condições de criar empregos verdes, abrir novos mercados de exportação e atrair investimentos internacionais, inclusive de fundos soberanos europeus que buscam compensar séculos de destruição ambiental.”
Chamado final: visão de futuro
O discurso foi encerrado com uma mensagem de esperança, citando o ex-secretário-geral da ONU e patrono do ESG, Kofi Annan:
“Todo o nosso empenho é para ajudar pessoas. Não adianta termos tudo lindo e maravilhoso se as pessoas não têm o que comer ou onde morar. Queremos um futuro em que o Brasil exporte não apenas commodities, mas tecnologia, conhecimento e soluções circulares.”
Arnone concluiu:
“Circularidade é a palavra da vez. É condição de competitividade no século XXI. É o futuro que queremos: prosperidade com regeneração ambiental e inclusão social. Com essa visão, declaro aberto o Global Meeting 2025 e convido todos a construirmos juntos uma economia mais eficiente, sustentável e inclusiva.”
Contexto do evento
O Global Meeting – Circuito COP30 | Edição Especial – Na Praia é uma realização do Instituto Global ESG e do Movimento Interinstitucional ESG na Prática, em parceria com a Embrapa e o Grupo R2, gestor do Complexo Na Praia. Conta com o patrocínio da Caixa Econômica Federal e com o fomento do Grupo Arnone, além de transmissão ao vivo pelo Poder360 e pela TV Global ESG no YouTube.