Encerrando a programação do Global Meeting – Circuito COP30: Simpósio de Economia Circular e Cadeias Produtivas Sustentáveis, o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Augusto Nardes proferiu a palestra magna final, marcada por balanço de trajetória pública, propostas técnicas e defesa de um pacto de governança para o desenvolvimento sustentável de médio e longo prazo.
Ao longo da fala, Nardes também celebrou 20 anos como ministro do TCU e agradeceu a outorga da Medalha Busumuru Kofi Atta Annan, recebida no evento.
“Receber a medalha de alguém que é visto como personalidade que ajuda a pacificar o mundo me deixa não só lisonjeado, mas muito feliz”, afirmou, lembrando ter conhecido Kofi Annan em Genebra, quando cursava mestrado em desenvolvimento sustentável.
Governança como base: do Brasil ao mundo
Nardes relatou que, a partir de 2013, ao presidir o TCU, estruturou um programa para fincar governança, desenvolvimento sustentável e auditorias coordenadas como pilares da atuação de controle. Ele citou a primeira auditoria de desenvolvimento sustentável na Amazônia (IDMAPA), que capacitou mais de mil auditores, e a expansão para o Brasil, América Latina e Caribe — chegando hoje a 141 países, com o Brasil presidindo a Intosai (Organização Internacional de Entidades Fiscalizadoras Superiores).
“Governança é troca de boas práticas. Se não houver boa governança, não se implementa o desenvolvimento sustentável”, destacou.
“Um presidente pode ser inteligente e preparado, mas sozinho não decide o futuro de uma nação. É preciso centro de governo, gente especializada ao seu lado e políticas que durem 12, 15 ou 20 anos.”
O ministro exibiu o vídeo da Pangeia, metáfora da união global, e defendeu a construção de uma “nova Pangeia” baseada em cooperação internacional, auditorias conjuntas e compartilhamento de informações.
iESGo e contabilidade ambiental
Nardes apresentou em detalhes o iESGo – Indicador na Administração Pública, criado em 2024 para monitorar mais de 387 instituições e avaliar dimensões como pessoas, meio sustentável, TI, compras e governança digital.
“Com o iESGo, consigo mostrar a qualquer instituição seus pontos fortes e fracos. Podemos avaliar a Embrapa, um ministério ou uma autarquia com base em indicadores claros. Esse é o papel da governança: medir, avaliar e corrigir.”
Ele também reforçou a necessidade de contabilidade ambiental e da criação do Produto Interno Verde (PIV), sistema de contas econômicas ambientais para valorar a produção verde nacional.
“O Brasil tem potencial para ser protagonista mundial na economia verde. Mas é preciso que a política não seja de curto prazo. Precisamos de projeto de Estado permanente. É isso que o PIV simboliza.”
Governança climática e prevenção
Ao tratar de enchentes no Rio Grande do Sul, Nardes destacou a falta de governança climática e a urgência de integrar municípios e estados na prevenção de tragédias.
“Sem árvores, você não tem água. Eu me considero um produtor de água. Já plantei 10 mil árvores na minha propriedade. Essa é a prática que precisamos levar ao país inteiro.”
Ele relatou ter fundado uma rede de governança climática e defendeu que cada município pode e deve criar sua governança climática, com planejamento de riscos e medidas preventivas.
Vida pública, livros e legado
O ministro revisitou sua trajetória: vereador aos 19 anos, cinco anos em Genebra, período no Japão, seis mandatos no Congresso Nacional e 20 anos no TCU. Relembrou dificuldades do início da carreira, quando conciliava estudos com empregos de sobrevivência, como recepcionista, motorista e entregador de flores.
“A vida é uma escada. Ninguém chega a lugar nenhum sem subir cada degrau. A governança é a base dessa escada, seja na família, na empresa ou na administração pública.”
Autor dos livros “Governança, o Desafio do Brasil”, “Da Governança à Esperança” e “Centro de Governo”, ele defendeu a institucionalização de práticas que deixem legado duradouro.
“Para que haja legado, precisamos pensar o Brasil em 2030, 2040. Governança é confiança, é avaliação de risco, é inovação. E, acima de tudo, é esperança.”
Considerações finais
A palestra foi marcada por tom otimista e pessoal. Ao se despedir, Nardes reforçou o simbolismo do momento:
“Celebro 20 anos como ministro nesta semana que coincide com o 20 de setembro, data histórica para nós gaúchos. Sigo percorrendo o Brasil de ponta a ponta porque acredito que este país é fantástico. O que nos falta é governança, planejamento e coragem de pensar no longo prazo.”
Contexto do evento
O Global Meeting – Circuito COP30 é uma realização do Instituto Global ESG e do Movimento Interinstitucional ESG na Prática, em parceria com a Embrapa e o Grupo R2. Conta com patrocínio da Caixa Econômica Federal, referência em finanças sustentáveis, e com o fomento do Grupo Arnone. A edição teve apoio de uma ampla rede interinstitucional e foi transmitida ao vivo pelo Poder360 e pela TV Global ESG no YouTube.