Envato Em 13 de junho de 2023, as Lojas Americanas ganhou os holofotes depois da descoberta do que para muitos é considerado o maior caso de fraude da história corporativa do país. O caso deixou a pauta sobre transparência nas organizações em alta e também acendeu um alerta, uma vez que a empresa também já vinha se dedicando às relações ESG (Ambiental, Social e Governança). Junto a Magazine Luiza, a empresa integra o chamado “Novo Mercado”, até então, como exemplos de governança.
Há tempos, o ESG deixou de ser uma tendência para ser uma necessidade não apenas governamental, mas também organizacional. Em 2024, a governança, ação pouco discutida no movimento, tende a ganhar maior notoriedade, parte disso tendo como exemplo as Lojas Americanas.
Segundo, Marcelo Lico, CEO da Crowe Macro Brasil, as Americanas sempre se colocaram como uma das empresas com as melhores práticas de Governança. Para contornar os casos de fraude, a organização teria que colocar “peso” em suas práticas ESG. “A transparência não deve ser somente para os colaboradores de uma organização, mas para todos que de alguma forma estão ligados à ela, sejam investidores, credores, a sociedade em seu entorno e os seus colaboradores.
Lico, diz que o “dinheiro da empresa” gera riqueza para os acionistas e também para os stakeholders, os quais confiam nas práticas de governança corporativa (O “G” do ESG) aplicadas e divulgadas pela administração. “Quando há má intenção em adotar práticas ilegais para alcançar objetivos enganosos ou fraudulentos, em detrimento de terceiros, não há o que se fazer.”, comenta o especialista.
Alexandre Arnone, chairman do Grupo Arnone e diretor do Instituto Global, acredita que o caso impulsiona setores a defenderem a aplicação de uma norma padrão que possa mensurar a maturidade das empresas diante das práticas sustentáveis. “O Brasil, por exemplo, já possui uma norma técnica de mensuração de escopo do investimento social e ambiental das organizações. O Balanço Social e Ambiental, está em vigor desde 2012 pela norma contábil NBC T 15. Em 2012, o Brasil já havia elaborado um modelo demonstrativo que abrange aspectos sociais e ambientais, com o propósito de proporcionar transparência a todos os stakeholders”, explica ele.
O caso Americanas ainda relembra o grande histórico do Brasil em relação a fraudes em balanços. O alarme da empresa se deu principalmente devido a seu grande reconhecimento no país. Como prática “esquecida” do ESG, a tendência é que o ano possa mostrar avanços significativos em governança. Empresas tendem a ter maior atenção às práticas de transparência nas empresas.
Ações como cultura organizacional, ética empresarial, auditoria externa independente, responsabilidade social corporativa, remuneração justa com estabelecimento de políticas de remuneração e revisão recorrente de comitê independente estarão mais presentes nas organizações a fim de evitar futuros problemas.
“A transparência não deve ser somente para colaboradores de uma organização, mas para todos que de alguma forma estão ligados à ela, sejam investidores, credores, a sociedade em seu entorno e os seus colaboradores. Aplicando as melhores práticas, empresas tendem a ter melhor destaque, todavia, não adianta ter todas as regras, auditores internos, externos, políticas, compliance e todo o resto, se a alta cúpula está propensa a mentir e fraudar informações divulgadas para o mercado”, comenta Lico. Brandon Nogueira, diretor de sustentabilidade do Instituto SCompany concorda que uma das principais finalidades dos relatórios é a transparência, demonstrando o cenário positivo e negativo, e qual a estratégia adotar para mitigar os impactos. "A S Company criou um sistema de certificação, baseado no desempenho das organizações. O primeiro selo é o bronze, depois prata, ouro e platinum. Cada um atesta um nível de maturidade de uma empresa em ações ESG. O principal desse processo é que a S Company faz uma auditoria externa nas organizações, dando credibilidade ao relatório que é o mais completo hoje no mercado", complementa Nogueira.
"É interessante esse tipo de certificação, e é importante destacar que o mercado compreende que todos estamos em processo de evolução então, neste momento, não importa em que posição estamos e sim o quanto estamos comprometidos em evoluir e buscar a excelência", finaliza Alexandre Arnone.
Após um ano do rombo de R$ 40 bilhões, houve mais de 5,5 mil demissões de colaboradores; a empresa possui ainda cerca de R$ 21,1 bilhões em dívidas, sem contar com o endividamento bancário; a varejista também fechou 95 lojas nesse período. Contudo, houve aprovação do plano de recuperação judicial em dezembro do ano passado, com isso, ainda não há a probabilidade de falência.