11/04/2024 às 11h00min - Atualizada em 11/04/2024 às 11h00min

Cresce ceticismo de investidores desconfiados dos relatórios ESG

Segundo levantamento, 94% dos empresários não acreditam nos relatórios de práticas sustentáveis

Bianc Rocha
Bianc Rocha
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De acordo com o PwC's Global Investor Survey 2023, 94% dos investidores entrevistados acreditam que os relatórios corporativos têm pelo menos algum nível de alegações de sustentabilidade não fundamentadas – o famoso greenwashing (ou banho verde), que indica a lavagem de dinheiro ou de virtudes ambientalistas por parte de organizações ou pessoas, mediante o uso de técnicas de marketing e relações públicas. Em 2022 o mesmo relatório afirma que esse ceticismo estava presente em  87% dos investidores.

O estudo diz que o número explica o apoio que os investidores têm em novos requisitos de divulgação, como os da Diretiva de Relatórios de Sustentabilidade Corporativa (CSRD) da União Europeia e do Conselho Internacional de Normas de Sustentabilidade (ISSB), que poderiam levar a relatórios mais consistentes e comparáveis ​​sobre sustentabilidade. 

Uma boa forma de desmascarar práticas de greenwashing, ou a “maquiagem verde”, é com a real aplicação do Balanço Social e Ambiental, que deve ser feito de forma independente e precisa. Nesse aspecto, não precisamos inventar a roda: o Brasil tem à disposição a Norma Brasileira de Contabilidade NBC T 15, um rico documento, pouco conhecido, que estabelece procedimentos para evidenciar de forma clara e objetiva o nível de maturidade das corporações em relação às práticas ESG.

Ainda segundo a pesquisa da PwC, os empresários têm depositado mais confiança nos demonstrativos financeiros e nas notas explicativas. Por outro lado, as divulgações de sustentabilidade estão entre as fontes de informação menos confiáveis publicadas pelas empresas. Embora eles encaram com ceticismo, por outro lado, mostram confiança na garantia de avaliação a exatidão das informações de sustentabilidade comunicadas pelas empresas. Hoje, grande parte dos relatórios de sustentabilidade não está sujeita a essa garantia.

Os dados ainda apontam que os empresários são claros sobre áreas dos relatórios que devem ser mais completas e melhores, tanto em tecnologia quanto em sustentabilidade. Eles também  demonstram desconfiar das fontes de informação que estão utilizando.
 

Clareza e consistência
 

Para a advogada e consultora de empresas em direitos humanos e ESG, Ana Cláudia Atchabahian, os investidores realmente não confiam nos relatórios e há uma resistência no investimento em ESG, não somente pelos relatórios, mas também em função das discussões sobre o retorno financeiro dos investimentos. 

Por mais que existam registros, ainda não ficou comprovado para os empresários que as práticas trazem um retorno financeiro mais elevado às empresas. “Os investidores brasileiros têm essa resistência, mas a tendência global de se alinhar à sustentabilidade é um imperativo muito forte dos empresários e das agências reguladoras estrangeiras”, analisa a advogada.

O PwC’s Global Investor Survey também apontou que 57% dos empresários afirmaram que se as empresas cumprissem com os regulamentos e padrões futuros (incluindo o CSRD , a regra de divulgação climática proposta pela SEC nos EUA, e os padrões ISSB ), isso iria satisfazer suas necessidades de informação para a tomada de decisões para um grande ou muito grande.

Atchabahian diz que esses dados, mesmo relevantes, não têm alterado as trajetórias e as dívidas das empresas, pois elas acabam muitas vezes tendo também de prestar contas para grupos econômicos estrangeiros, que estão vinculados a outras agências reguladoras, que acabam levando muito mais a sério a temática e também aplicando muito mais multas, como  o próprio sistema auto-regulatório brasileiro (o CVM, SUSEP, a Anbima). 

O estudo ressalta ainda que o envolvimento é o ponto de partida para construir a confiança dos empresários. 85% dizem se envolver com empresas regularmente ou quando surgem questões de interesse ou preocupação. 

Com o ceticismo da maior parte dos empresários nas questões ESG, do lado de quem produz os relatórios, cada vez mais se discute as estratégias de eficácia dos dados sobre as práticas. As certificações em ESG tendem a ter mais relevância e ganho para as empresas/marcas que analisam e produzem as análises. 

Mesmo assim, Ana Cláudia explica que é importante que existam esses estudos pois mostram para a sociedade que estão fazendo o dever delas e buscando ter essas certificações. Além disso, se empresas de certificações violarem regras e critérios nos relatórios, podem sofrer danos de imagem e mercadológicos graves.

A eficácia das certificações, apresenta muitos casos de greenwashing o que leva o ceticismo em cima delas. Mas ao mesmo tempo, para os consumidores e investidores é também um ponto positivo, pois em função disso, elas podem ser consideradas eficazes sob essa perspectiva.

Os relatórios não vão conseguir fazer com que os investidores acreditem na eficácia dos dados, mas eles tendem obrigatoriamente a refletir sobre aquilo que se propaga. Então, a melhor maneira é a ação das empresas, que vão conseguir demonstrar que estão sendo efetivamente transparentes naquilo que elas estão fazendo. É importante que haja esse casamento sobre o que se fala e o que se faz”, analisa a advogada.
 

Mais sobre os dados
 

Os empresários responderam alguns questionamentos sobre o que procuram em uma empresa/organização de dados sobre ESG, para que tenham mais eficácia. Pouco mais da metade dos investidores recorreram a incentivos, como a incorporação do progresso no cumprimento das metas ESG na remuneração dos executivos. 

50% afirmaram ter apresentado resoluções dos acionistas sobre ESG. 42% afirmaram que alienaram as suas participações em empresas que não demonstraram medidas suficientes.

85% acreditam que uma garantia razoável (o nível de garantia obtido numa auditoria das demonstrações financeiras) daria confiança nos relatórios de sustentabilidade numa medida moderada, grande ou muito grande. 

80% desejam que os profissionais de asseguração tenham acesso a especialistas com conhecimento específico no assunto. Outros  80%, desejam que possam ter uma visão mais completa e interconectada dos negócios em todos os tipos de relatórios corporativos.

79% pensam que esses relatórios precisam passar por auditorias de organizações complexas. 76% dos respondentes pensam que seria prático que os reportes trouxessem julgamentos prospectivos da administração. 

Em setembro de 2023, foram entrevistados 345 investidores e analistas em 30 países e territórios e conduzimos entrevistas aprofundadas com 15 profissionais de investimento. Os seus investimentos abrangeram uma variedade de classes de ativos, abordagens de investimento e horizontes temporais, e os ativos sob gestão (AUM) nas suas organizações variam entre menos de $500 milhões de dólares e $1 bilião de dólares ou mais. 65% dos entrevistados estão em organizações com AUM total superior a US$ 1 bilhão.

 

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