Socio-bioeconomia com resultados: Anderson Cassio Sevilha apresenta o Bem Diverso e aponta a agroecologia como eixo da circularidade

Pesquisador da Embrapa detalha inclusão socioprodutiva com 10 mil famílias, crédito comunitário, aumento de produtividade do açaí com manejo e meliponicultura e a passagem de “cadeias” para “sistemas produtivos de valor”

20/09/2025 19h20 - Atualizado há 2 dias

O Global Meeting – Circuito COP30: Simpósio de Economia Circular e Cadeias Produtivas Sustentáveis, no Complexo Na Praia (Brasília), transmitido pelo Poder360 e pela TV Global ESG no YouTube, trouxe a fala de Anderson Cassio Sevilha, doutor em Ciências e pesquisador da Embrapa na área de inclusão socioprodutiva de povos e comunidades tradicionais e da agricultura familiar.

 

Com linguagem direta e apoiada em resultados de campo, Sevilha conectou conservação da biodiversidade, geração de renda e governança local, com foco no projeto Bem Diverso – Sustenta e Inova.

 

Bem Diverso – Sustenta e Inova: ciência + saber tradicional, da Amazônia ao Semiárido

Sevilha expôs a trajetória do projeto (iniciado em 2016) que foi reconhecido pela ONU como boa prática replicável para os ODS e destacado pela União Europeia entre 12 histórias globais de mudança. A iniciativa integra Cerrado, Caatinga e Amazônia — com apoio europeu hoje concentrado na Ilha do Marajó — e articula pesquisa, saberes locais e soluções para problemas reais.

 

A gente junta o conhecimento científico e o conhecimento tradicional para resolver problemas locais, conservando a biodiversidade e produzindo serviços ambientais e ecossistêmicos pelo uso sustentável.

 

Como funciona

  • Eixo 1 – Conservação, manejo e restauração: produtos com valor ambiental, social, cultural e identitário.
  • Eixo 2 – Processamento: agregação de valor nutricional e sanitário para inserção em mercados.
  • Eixo 3 – Comercialização: presença em mercados institucionais, privados e solidários, com ênfase em cooperação.
  • Eixo 4 – Políticas públicas e crédito: acesso efetivo às políticas e financiamento adequado ao território.

 

Mais do que competitividade, a gente precisa trabalhar cooperação. Esse ‘mundo de tubarão’ não serve às nossas populações.

 

 

Da “bioeconomia” à 

socio-bioeconomia: riqueza que fica no território

O pesquisador problematizou a bioeconomia convencional — frequentemente centrada em insumos e mão de obra barata locais para gerar sustentabilidade econômica fora do território — e propôs a virada para socio-bioeconomia, expandindo o olhar para cinco dimensões de sustentabilidade: econômica, social, ambiental, cultural e política-organizativa.

 

Bioeconomia é para quem? Quando a riqueza não fica, a gente reforça a especialização em ‘cadeias’ — e cadeia lembra prisão. Nós falamos em sistemas produtivos de valor, integrados e cooperativos.

 

Diagnóstico-chave

  • Famílias não vivem de atividade única: combinam agricultura, extrativismo, manejo, processamento e venda.
  • É preciso formação transversal (conservação, restauração, processamento, mercados, acesso a políticas e crédito).

 

Crédito que entende o território: agentes locais e bancos públicos

Para romper barreiras de acesso, o projeto formou agentes de crédito das próprias comunidades, conhecedores da realidade local e das tecnologias sociais. O modelo já foi adotado por BASA, Caixa e Banco do Brasil.

 

  • No ano corrente: 373 contratos de crédito; 46% por mulheres para mulheres; +R$ 1,2 milhão direcionados principalmente ao manejo de mínimo impacto de açaizais nativos.

 

Mais do que escrever política pública, a gente faz chegar: informação, crédito e condições concretas para produzir com dignidade.

 

Produtividade com floresta em pé: açaí + meliponicultura

Tecnologias de manejo elevaram a produção de 1 t/ha/ano para até 6 t/ha/ano. Com meliponicultura (abelhas sem ferrão), o ganho chega a +30–35%, alcançando quase 10 t/ha/ano e ampliando a safra — tudo com baixo impacto e restauração do ambiente.

 

A gente mantém a floresta em pé, aumenta a renda e alonga o tempo de colheita. É circularidade na prática.

 

Centros de referência e multiplicação: 10 mil famílias e contando

A estratégia se apoia em centros de referência comunitários, mantidos pelas próprias populações. A partir da formação de facilitadores locais, o conhecimento se espalha em rede: já são mais de 10 mil famílias envolvidas, desenvolvendo novos produtos, fortalecendo governança e mercados de base solidária.

 

Agroecologia: nome próprio da circularidade no campo

Sevilha foi categórico ao traduzir circularidade para a agricultura: agroecologia.

 

Quando a gente pensa economia circular na agricultura, o nome é agroecologia. É totalmente circular e base da produção orgânica.

 

Ele conclamou o público a acompanhar e apoiar o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Planapo).

 

A circularidade que defendemos está escrita na agroecologia. É conhecimento, é prática e é política pública.

 

 

Contexto institucional do evento

O Global Meeting – Circuito COP30 é uma realização do Instituto Global ESG, em parceria com a Embrapa e o Grupo R2. Conta com o patrocínio da Caixa Econômica Federal, o fomento do Grupo Arnone e apoios interinstitucionais de órgãos públicos, empresas, movimentos sociais e instituições científicas. O simpósio integra a agenda preparatória da COP30, consolidando o Brasil como protagonista em economia circular, cadeias produtivas sustentáveis e governança climática.


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