O Global Meeting – Circuito COP30: Simpósio de Economia Circular e Cadeias Produtivas Sustentáveis, no Complexo Na Praia (Brasília), transmitido pelo Poder360 e pela TV Global ESG no YouTube, trouxe a fala de Anderson Cassio Sevilha, doutor em Ciências e pesquisador da Embrapa na área de inclusão socioprodutiva de povos e comunidades tradicionais e da agricultura familiar.
Com linguagem direta e apoiada em resultados de campo, Sevilha conectou conservação da biodiversidade, geração de renda e governança local, com foco no projeto Bem Diverso – Sustenta e Inova.
Bem Diverso – Sustenta e Inova: ciência + saber tradicional, da Amazônia ao Semiárido
Sevilha expôs a trajetória do projeto (iniciado em 2016) que foi reconhecido pela ONU como boa prática replicável para os ODS e destacado pela União Europeia entre 12 histórias globais de mudança. A iniciativa integra Cerrado, Caatinga e Amazônia — com apoio europeu hoje concentrado na Ilha do Marajó — e articula pesquisa, saberes locais e soluções para problemas reais.
“A gente junta o conhecimento científico e o conhecimento tradicional para resolver problemas locais, conservando a biodiversidade e produzindo serviços ambientais e ecossistêmicos pelo uso sustentável.”
Como funciona
“Mais do que competitividade, a gente precisa trabalhar cooperação. Esse ‘mundo de tubarão’ não serve às nossas populações.”
Da “bioeconomia” à
socio-bioeconomia: riqueza que fica no território
O pesquisador problematizou a bioeconomia convencional — frequentemente centrada em insumos e mão de obra barata locais para gerar sustentabilidade econômica fora do território — e propôs a virada para socio-bioeconomia, expandindo o olhar para cinco dimensões de sustentabilidade: econômica, social, ambiental, cultural e política-organizativa.
“Bioeconomia é para quem? Quando a riqueza não fica, a gente reforça a especialização em ‘cadeias’ — e cadeia lembra prisão. Nós falamos em sistemas produtivos de valor, integrados e cooperativos.”
Diagnóstico-chave
Crédito que entende o território: agentes locais e bancos públicos
Para romper barreiras de acesso, o projeto formou agentes de crédito das próprias comunidades, conhecedores da realidade local e das tecnologias sociais. O modelo já foi adotado por BASA, Caixa e Banco do Brasil.
“Mais do que escrever política pública, a gente faz chegar: informação, crédito e condições concretas para produzir com dignidade.”
Produtividade com floresta em pé: açaí + meliponicultura
Tecnologias de manejo elevaram a produção de 1 t/ha/ano para até 6 t/ha/ano. Com meliponicultura (abelhas sem ferrão), o ganho chega a +30–35%, alcançando quase 10 t/ha/ano e ampliando a safra — tudo com baixo impacto e restauração do ambiente.
“A gente mantém a floresta em pé, aumenta a renda e alonga o tempo de colheita. É circularidade na prática.”
Centros de referência e multiplicação: 10 mil famílias e contando
A estratégia se apoia em centros de referência comunitários, mantidos pelas próprias populações. A partir da formação de facilitadores locais, o conhecimento se espalha em rede: já são mais de 10 mil famílias envolvidas, desenvolvendo novos produtos, fortalecendo governança e mercados de base solidária.
Agroecologia: nome próprio da circularidade no campo
Sevilha foi categórico ao traduzir circularidade para a agricultura: agroecologia.
“Quando a gente pensa economia circular na agricultura, o nome é agroecologia. É totalmente circular e base da produção orgânica.”
Ele conclamou o público a acompanhar e apoiar o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Planapo).
“A circularidade que defendemos está escrita na agroecologia. É conhecimento, é prática e é política pública.”
Contexto institucional do evento
O Global Meeting – Circuito COP30 é uma realização do Instituto Global ESG, em parceria com a Embrapa e o Grupo R2. Conta com o patrocínio da Caixa Econômica Federal, o fomento do Grupo Arnone e apoios interinstitucionais de órgãos públicos, empresas, movimentos sociais e instituições científicas. O simpósio integra a agenda preparatória da COP30, consolidando o Brasil como protagonista em economia circular, cadeias produtivas sustentáveis e governança climática.