Encerrando a parte técnica do Simpósio de Instrumentos Fiscais e Tributários Sustentáveis, promovido pela Advocacia-Geral da União (AGU) em parceria com o Instituto Global ESG, no contexto do Global Meeting – Circuito COP30, a procuradora-geral federal Adriana Maia Venturini conduziu como moderadora o Painel 5, que teve como tema “Gestão estratégica da litigiosidade: impactos socioambientais, recuperação de ativos e sustentabilidade fiscal”.
A atividade reuniu especialistas de diferentes órgãos e instituições públicas e privadas, com o objetivo de discutir soluções estruturantes para o enfrentamento da macro-litigância envolvendo o Estado brasileiro, a partir de uma abordagem que concilia responsabilidade fiscal, coerência jurídica, racionalidade na cobrança e respeito ao interesse público.
Um novo paradigma na advocacia pública
Ao abrir os trabalhos, Venturini destacou a pertinência do tema para a atuação da Procuradoria-Geral Federal (PGF), especialmente diante do volume expressivo de demandas que impactam diretamente o orçamento público. “Apenas em matéria previdenciária, a PGF recebe mais de 8.500 citações por dia. Somos grandes protagonistas – e também corresponsáveis – por esse cenário. Os dois maiores focos de litigância da União são o contencioso previdenciário e as execuções fiscais. Precisamos lidar com isso de forma estruturada”, afirmou.
A procuradora apresentou o programa Pró-Estratégia, criado a partir de provocação do advogado-geral da União, ministro Jorge Messias. A iniciativa foi inicialmente desenvolvida no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e hoje está implementada nos seis Tribunais Regionais Federais (TRFs), no Tribunal Superior do Trabalho (TST) e no Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo Venturini, trata-se do maior diagnóstico já realizado da litigância da administração pública federal indireta, com mapeamento detalhado de teses, padrões de judicialização, origem dos processos, natureza das matérias e comportamento dos tribunais.
“Esse diagnóstico nos permite antecipar riscos, propor alterações normativas e construir estratégias uniformes de atuação. Por exemplo, descobrimos que 80% dos processos no STJ vêm da 4ª e da 5ª Regiões. Na 5ª por questões processuais, e na 4ª pela não aplicação de precedentes qualificados. Isso impacta diretamente a previsibilidade jurídica e o orçamento público”, observou.
Painelistas convidados
Além da moderação de Adriana Venturini, o painel contou com apresentações técnicas de cinco especialistas confirmados:
Governança jurídica, consensualidade e novos instrumentos
Durante a mediação, Venturini reforçou o compromisso da PGF e da AGU com a construção de soluções estruturantes e sustentáveis. Ela anunciou o lançamento, previsto para agosto, da plataforma Pacifica, sistema automatizado de consensualidade imediata e final de conflitos administrativos. O objetivo é permitir o reconhecimento direto de direitos pela via administrativa, evitando judicializações desnecessárias e garantindo eficiência institucional.
“Temos a Lei nº 13.140 desde 2015 autorizando acordos extrajudiciais com a administração pública. Só agora vamos conseguir operacionalizar isso com uma plataforma própria, que permita uma atuação resolutiva, rápida e segura, inclusive com ferramentas automatizadas para indenizações em casos padronizados”, explicou.
A procuradora também relatou a criação de uma resolução conjunta com o CNJ para padronizar os laudos de concessão do BPC (Benefício de Prestação Continuada). “Hoje, temos dois critérios distintos para o mesmo direito: o da administração, mais rígido; e o do Judiciário, mais amplo. Isso força o cidadão a judicializar um direito que já deveria ser reconhecido. Essa resolução é um passo histórico para a coerência institucional”, avaliou.
Encerramento com compromisso coletivo
Ao final do painel, Adriana Venturini agradeceu a participação dos painelistas e dos organizadores do evento, destacando o nível técnico e o comprometimento dos envolvidos. “A paixão e o preparo dos colegas aqui presentes mostram que estamos transformando a advocacia pública brasileira. Temos muitos desafios, mas também muitos motivos para acreditar. Governança jurídica é parte essencial de um país mais justo, transparente e sustentável”, concluiu.
O painel encerrou os trabalhos do simpósio com um chamado à convergência interinstitucional e à modernização do sistema jurídico-fiscal brasileiro, evidenciando que a sustentabilidade também passa pela coerência nas decisões, eficiência na cobrança e compromisso com a racionalização do Estado.