A vice-secretária geral da ONU, Amina J. Mohammed, a primeira-ministra de Barbados, Mia Amor Mottley, e a secretária-geral da ONU Comércio e Desenvolvimento, Rebeca Grynspan, abriram o primeiro Fórum Global da Cadeia de Suprimentos em meio a um cenário de comércio global volátil.
As interrupções globais estão fazendo com que os navios passem mais dias no mar e emitam níveis mais altos de gases de efeito estufa, em meio a uma crescente falta de confiabilidade e a incerteza de um mundo interconectado.
Diante desse cenário, a secretária-geral da UNCTAD, Rebeca Grynspan, destacou a necessidade urgente de tornar as redes globais de produção e distribuição mais inclusivas, sustentáveis e resilientes.
Grynspan foi acompanhada no fórum pelos ministros de Comércio e Transporte de Barbados, Curaçao, Fiji, Guiana, Ilhas Marshall, Seychelles e Tuvalu; representantes de organismos da ONU, como a Organização Marítima Internacional (OMI), a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO) e o Pacto Global da ONU; bancos de desenvolvimento; representantes dos principais portos, como o Porto de Seattle; bem como líderes do setor de transporte marítimo, autoridades portuárias e o Canal do Panamá.
O Fórum Global abordou os efeitos combinados da mudança climática, das tensões geopolíticas e da pandemia de COVID-19 nas cadeias de suprimentos globais, para as quais a ONU Comércio e Desenvolvimento forneceu uma análise crítica.
Ao visitar o porto de Bridgetown, em Barbados, a secretário-geral da UNCTAD, Rebeca Grynspan, destacou a importância de os portos continuarem fazendo parte das cadeias globais de valor por meio de tecnologia e adaptação, mostrando Barbados como um exemplo para outros pequenos Estados insulares em desenvolvimento (SIDS, na sigla em inglês) na implementação de práticas sustentáveis.
Descarbonização do transporte marítimo global
O Fórum destacou as complexidades e oportunidades na descarbonização do transporte marítimo global, com foco nos países em desenvolvimento com recursos de energia renovável.
Os esforços para incentivar combustíveis de baixo ou zero carbono, estabelecer estruturas de segurança para novos combustíveis e desenvolver ferramentas de avaliação da prontidão dos portos foram destacados como etapas essenciais para preparar os portos para lidar com vários combustíveis e garantir operações de abastecimento seguras.
O Fórum serviu como cenário ideal para o lançamento do “Manifesto para Transporte e Logística de Frete Intermodal, de Baixo Carbono, Eficiente e Resiliente”.
Esse manifesto enfatiza a necessidade urgente de transformar o transporte de cargas para atender às metas climáticas globais e aumentar a resiliência socioeconômica.
As principais áreas de foco incluem a transição para combustíveis de emissão zero, a otimização dos sistemas de logística e a criação de cadeias de valor sustentáveis, com o objetivo de manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C.
Foco estratégico nos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (SIDS)
Os SIDS enfrentam riscos maiores dos impactos da mudança climática na infraestrutura de transporte, colocando o setor de transporte e logística na vanguarda de suas prioridades de desenvolvimento.
Esses países precisam melhorar a conectividade dentro e entre suas nações, bem como com os mercados regionais e globais, por meio de investimentos estratégicos em infraestrutura de transporte marítimo e aéreo, redes de transporte multimodal eficientes e procedimentos alfandegários e administrativos simplificados.
Os ministros participantes dos pequenos Estados insulares em desenvolvimento defenderam a transição para tecnologias verdes e sustentáveis no transporte marítimo para promover a eficiência energética e combater a poluição marinha.
Em uma declaração conjunta, eles pediram que as instituições financeiras internacionais, os bancos de desenvolvimento e os países doadores priorizem o financiamento e o investimento em seu setor de transporte e logística, concentrando-se em projetos que promovam a resiliência, a sustentabilidade e a inclusão.
Soluções digitais para resiliência
As tecnologias digitais serão fundamentais para fortalecer a resiliência da cadeia de suprimentos global. Inovações como mecanismos de rastreabilidade habilitados para blockchain e sistemas avançados de automação alfandegária foram apresentados como ferramentas indispensáveis para otimizar os processos de facilitação do comércio, aumentar a transparência e mitigar os riscos operacionais.
A UNCTAD apresentou diretrizes para o desenvolvimento de uma janela única eletrônica para o comércio. As principais vozes do setor enfatizaram a importância da colaboração e da digitalização no setor marítimo, pedindo aos portos que se tornem centros intermodais que integrem recursos digitais e de energia.
Conjunto de dados inovadores sobre comércio e transporte
O Fórum também assistiu ao lançamento do conjunto de dados de comércio e transporte da UNCTAD. Desenvolvido em parceria com o Banco Mundial, esse repositório inovador de dados globais é o primeiro de seu tipo.
Ele abrange todos os países e parceiros comerciais, com dados sobre mais de 100 commodities e vários modos de transporte, oferecendo uma visão holística do comércio, incluindo o modo de transporte e os custos associados.
Acessível gratuitamente, espera-se que o conjunto de dados contribua significativamente para uma melhor compreensão e otimização dos fluxos comerciais globais, além de aprimorar a elaboração de políticas baseadas em evidências.
Inovação e colaboração entre jovens
No período que antecedeu o evento global, a UNCTAD realizou seu primeiro “Desafio de Inovação na Cadeia de Suprimentos”, com o objetivo de inspirar soluções inovadoras para tornar as cadeias de suprimentos globais mais ecológicas, eficientes e resilientes.
Quase 80 candidatas e candidatos de todo o mundo apresentaram projetos sobre esses temas. As propostas vencedoras foram apresentadas no fórum.
Falando a estudantes da Universidade das Índias Ocidentais, em Barbados, Rebeca Grynspan enfatizou que a esperança deve vir daqueles que estão no poder para inspirar os jovens.
Ela destacou o progresso em energia renovável, agricultura e tecnologia médica, bem como os esforços globais em desenvolvimento sustentável, ação climática e construção da paz.
Grynspan elogiou a resiliência das nações caribenhas diante de desastres naturais e enfatizou que o poder de mudar o futuro não tem idade, incentivando os alunos a perseguir seus sonhos e fazer a diferença.
Colaboração e o caminho para a Arábia Saudita 2026
Durante o Fórum, a ONU Comércio e Desenvolvimento e o Conselho Chinês para a Promoção do Comércio Internacional (CCPIT) assinaram um Memorando de Entendimento para expandir a colaboração existente.
Isso inclui atividades conjuntas de promoção de comércio e investimento, cooperação para a facilitação do comércio, exposições temáticas da cadeia de suprimentos, diálogos público-privados, eventos de combinação de negócios e facilitação de intercâmbios entre especialistas em economia e comércio, acadêmicos e grupos de reflexão.
Espera-se que os resultados desse fórum inaugural fortaleçam as cadeias de suprimentos globais e a resiliência dos pequenos Estados insulares em desenvolvimento.
O Reino da Arábia Saudita sediará o segundo Fórum Global, em 2026. Omar Bin Talal Hariri, presidente da Saudi Ports Authority, declarou que isso reflete o compromisso do país com o aprimoramento das cadeias de suprimentos globais e os esforços contínuos para posicionar o país como um centro de logística líder por meio da Estratégia Nacional de Transporte e Logística.