18/07/2024 às 09h26min - Atualizada em 18/07/2024 às 09h26min
Morte de três toneladas de peixes no Rio Piracicaba é investigada
Multa aplicada poderá variar de R$ 500 a R$ 50 milhões
Por Bruno Bocchini /Agência Brasil e Agência Estado - Repórter da Agência Brasil
Por Bruno Bocchini /Agência Brasil e Agência Estado
Gian Carlos Machado/Arquivo pessoal A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), agência paulista responsável pelo controle, fiscalização, monitoramento e licenciamento de atividades geradoras de poluição, está investigando a morte de pelo menos três toneladas de peixes no rio Piracicaba, no município do interior do estado de São Paulo.
O odor alterado do rio e a mortandade dos peixes foram notados no dia 7 de julho. No dia seguinte, a Cetesb identificou que a fonte poluidora que causou a morte dos animais era a Usina São José, instalada no município vizinho de Rio das Pedras (SP).
“[A Cetesb] interrompeu o descarte irregular de resíduo industrial e iniciou as análises das amostras coletadas para definir as punições cabíveis à usina, que incluem multa gravíssima e encaminhamento para apuração de crime ambiental, além de ajustes de conduta por parte da empresa”, disse a Cetesb, em nota.
Nesta quarta-feira (17), a Cetesb informou que está aguardando a conclusão das análises laboratoriais das amostras recolhidas no Rio Piracicaba, para embasar o processo administrativo que definirá a penalidade a ser aplicada à Usina São José, produtora de açúcar e álcool. A punição deverá ser publicada até a próxima sexta-feira (19).
A Usina São José S/A Açúcar e Álcool informou, em nota, que está acompanhando as investigações sobre a mortandade de peixes no Rio Piracicaba e suas possíveis causas. “Cabe lembrar que as operações da usina estavam interrompidas desde 2020, tendo sido retomadas somente em maio deste ano, e que nos últimos 10 anos houve mais de 15 ocorrências dessa natureza na região”.
A empresa disse ainda que adota as melhores práticas do ponto de vista ambiental “e não poupa esforços para colaborar plenamente com a Cetesb, a Polícia Ambiental e o Ministério Público”.
A prefeitura de Piracicaba informou que recolheu 2,97 toneladas de peixes mortos na área urbana do município. Os peixes mortos foram descartados para não permitir contaminação do solo ou da água.
Segundo a prefeitura, após a emissão do laudo final pela Cetesb, a multa aplicada na usina poderá variar de R$ 500 a R$ 50 milhões. “A prefeitura continua monitorando a qualidade da água do rio e também pretende exigir do responsável o repovoamento, com a soltura de alevinos [peixes jovens]”.
Pantanal Paulista A Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC) divulgou nota na qual informa que acompanha com apreensão a mortandade de peixes registrada na Área de Proteção Ambiental (APA) Tanquã-Rio Piracicaba. O ecossistema, chamado de Pantanal Paulista, é formado por vegetação nativa, com predominância de Formação Pioneira de Influência Aluvial (Várzeas), além de remanescentes da Floresta Estacional, explicou a APqC.
Segundo a entidade, para se ter ideia da importância da área para a fauna e a flora, um plano de manejo elaborado pelo Instituto Florestal revelou a existência de 435 espécies de vertebrados na APA Tanquã-Rio Piracicaba. A contaminação da água na região representa um risco não apenas para os peixes, como mostram as imagens de dezenas de espécies mortas, mas também para uma infinidade de aves e outros animais silvestres que utilizam o mesmo ambiente e compõem a cadeia alimentar.
"A APA Tanquã-Rio Piracicaba é refúgio para aves migratórias, que usam o local para repor energias durante seu deslocamento. As lagoas marginais também são usadas para desova e desenvolvimento de alevinos", destacou a APqC.
"O registro da mortandade de peixes ocorre em um momento em que São Paulo vive um desmonte do sistema de proteção ambiental, com extinção de institutos do meio ambiente, como o centenário Instituto Florestal, e o projeto de concessão de áreas de conservação e pesquisa para exploração de empresas. É preciso que a sociedade paulista se mobilize em defesa do meio ambiente e de suas instituições centenárias, cobrando punição aos responsáveis e compromisso dos políticos diante da emergência climática", declarou a APqC.