Quando indagados sobre o quanto estavam preocupados com os efeitos das mudanças climáticas na próxima geração, 28% dos brasileiros disseram estar extremamente preocupados; 45%, muito preocupados; 20%, um pouco; 3%, não muito; e 4%, de jeito nenhum. A maioria (73%), portanto, se preocupa com o impacto da mudança global do clima no futuro próximo.
Os dados fazem parte da maior pesquisa de opinião pública sobre as mudanças climáticas, a “People’s Climate Vote 2024”, realizada pelo PNUD com a Universidade de Oxford e o instituto GeoPoll. Os resultados divulgados hoje mostram que 80% – ou quatro em cada cinco – das pessoas no mundo desejam que seus governos tomem medidas mais firmes para enfrentar a crise climática. No Brasil, esse percentual é de 85%.
Ainda mais pessoas – 86% – querem que seus países deixem de lado as diferenças geopolíticas e trabalhem em conjunto no enfrentamento da mudança global do clima. A escala de consenso é especialmente impressionante no atual contexto mundial de aumento de conflitos e de ascensão do nacionalismo. No Brasil, são 90% a apoiarem a união dos países em prol da ação climática.
Mais de 75 mil pessoas, de 87 idiomas diferentes, em 77 países, responderam a 15 perguntas sobre mudanças climáticas na pesquisa. As questões foram formuladas com o intuito de ajudar a compreender como as pessoas estão sentindo o impacto da mudança global do clima e como pretendem que os líderes mundiais reajam. Os 77 países pesquisados representam 87% da população mundial.
“A pesquisa é clara. Os cidadãos globais querem que seus líderes transcendam suas diferenças, ajam agora e ajam com ousadia para combater a crise climática”, afirmou o Administrador do PNUD, Achim Steiner. “Os resultados da pesquisa – sem precedentes em termos de cobertura – revelam um nível de consenso verdadeiramente surpreendente.
Instamos os líderes e os formuladores de política a prestarem atenção, especialmente à medida que os países desenvolvem sua próxima ronda de compromissos de ação climática – ou “contribuições nacionalmente determinadas” no âmbito do Acordo de Paris. Essa é uma questão com a qual quase todos, em todos os lugares, concordam.”
A pesquisa revelou apoio a uma ação climática mais firme nos 20 maiores emissores de gases de efeito estufa do mundo, com maiorias variando de 66% das pessoas nos Estados Unidos e na Rússia, a 67% na Alemanha, 73% na China, 77% na África do Sul e na Índia, 85% no Brasil, 88% no Irã e até 93% na Itália.
Em cinco grandes emissores (Austrália, Canadá, França, Alemanha e Estados Unidos), as mulheres são mais favoráveis a reforçar os compromissos de seus países em 10 a 17 pontos percentuais. Essa diferença é maior na Alemanha, onde as mulheres têm 17 pontos percentuais mais probabilidade do que os homens de quererem mais ação climática (75% vs. 58%).
Além de um amplo apelo por uma ação climática mais ousada, a pesquisa mostra o apoio de uma maioria global de 72% a favor de uma transição rápida para o abandono dos combustíveis fósseis. Isso é verdade nos 10 países com maior produção de petróleo, carvão ou gás, incluindo maiorias de 89% na Nigéria e na Turquia, 80% na China, 76% na Alemanha, 75% da população da Arábia Saudita, 69% na Austrália e 54% das pessoas nos Estados Unidos. Apenas 7% das pessoas a nível mundial disseram que seu país não deveria fazer qualquer transição.
No Brasil, 61% dizem ser favoráveis à adoção “muito rápida” de energia renovável em substituição aos combustíveis fósseis. Outros 21% afirmam preferir uma transição “relativamente rápida”, e 11%, “lenta”. Apenas 3% responderam que não querem essa mudança “de jeito nenhum”.
Pessoas no mundo todo relataram que as mudanças climáticas eram algo em que pensavam com frequência. Em nível global, 56% disseram que pensavam regularmente no assunto, ou seja, diária ou semanalmente, incluindo cerca de 63% daqueles nos Países Menos Desenvolvidos (PMD). No Brasil, 51% e 23% afirmaram pensar no tema todos os dias ou toda semana, respectivamente.
Mais da metade das pessoas do mundo disseram que estavam mais preocupadas com as mudanças climáticas naquele momento do que no ano anterior (53%). O percentual correspondente foi mais elevado para quem vive nos PMD (59%). Em média, nos nove Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (PEID) pesquisados, até 71% disseram que estavam mais preocupados com as mudanças climáticas no ano da pesquisa do que no anterior.
No Brasil, vai a 76% o percentual de quem respondeu estar mais preocupado com a mudança global do clima no momento do que no ano anterior ao da pesquisa. Para 22%, a preocupação com o assunto não tinha variado de um ano para outro. Só 2% afirmaram estar menos preocupados.
Sessenta e nove por cento das pessoas do mundo disseram que suas principais decisões, como onde morar ou trabalhar por exemplo, estavam sendo impactadas pelas mudanças climáticas. A proporção afetada foi maior nos PMD (74%), mas notavelmente menor na Europa Ocidental e Setentrional (52%) e na América do Norte (42%). No Brasil, esses percentuais caem para 32% (a mudança do clima afeta muito), 40% (afeta pouco) e 27% (não afeta em nada).
Segundo o professor Stephen Fisher, do Departamento de Sociologia da Universidade de Oxford, “uma pesquisa desse tamanho foi um enorme esforço científico. Ao mesmo tempo em que mantivemos uma metodologia rigorosa, também nos esforçamos para incluir pessoas de grupos marginalizados nas partes mais pobres do mundo. Esses são alguns dos dados globais de mais alta qualidade disponíveis sobre a opinião pública em relação às mudanças climáticas”.
Para a diretora global de Mudanças Climáticas do PNUD, Cassie Flynn, “à medida que os líderes mundiais decidem sobre a próxima rodada de compromissos sob o Acordo de Paris até 2025, esses resultados são uma evidência inegável de que pessoas em todos os lugares apoiam ações climáticas ousadas. A pesquisa “People’s Climate Vote” deu voz a pessoas em todos os lugares – inclusive entre grupos tradicionalmente mais difíceis de pesquisar.
Por exemplo, pessoas em 9 dos 77 países pesquisados nunca haviam sido ouvidas sobre mudanças climáticas. Os próximos dois anos são uma das melhores chances que temos como comunidade internacional para garantir que o aquecimento permaneça abaixo de 1,5°. Estamos prontos para apoiar os formuladores de políticas a intensificar seus esforços enquanto desenvolvem seus planos de ação climática por meio da nossa iniciativa Climate Promise."
A iniciativa Climate Promise, do PNUD, viu mais de 100 países em desenvolvimento submeterem Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC) aprimoradas durante o segundo ciclo de revisão – dos quais 91% aumentaram suas metas de redução de emissões de gases de efeito estufa, e 93% também fortaleceram os objetivos de adaptação.