05/02/2024 às 09h55min - Atualizada em 05/02/2024 às 09h55min

Classes D e E têm mais dificuldades para conseguir tratamento contra o Câncer

A pesquisa do Data Favelas entrevistou cerca de 22.963 pessoas, a maioria são pessoas pretas

Bianca Rocha
Bianca Rocha
Envato

Uma pesquisa recente realizada pelo Data Favela a pedido do instituto Oncoguia, avalia os desafios enfrentados pelos moradores de favelas brasileiras sobre o câncer. Os dados, provenientes do Censo Demográfico 2022 do IBGE, revelam uma realidade preocupante. Das 11.403 favelas no Brasil, abrigando cerca de 16 milhões de pessoas, a maioria enfrenta obstáculos significativos no acesso à saúde, especialmente quando se trata do diagnóstico e tratamento do câncer.

 

A pesquisa ouviu 2.963 pessoas majoritariamente pertencentes às classes D e E, de todas as regiões do país, entre 18 de janeiro a 01 de fevereiro de 2023, e concluiu que 82% desses moradores dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS). Os desafios relatados são alarmantes: 7 em cada 10 não têm acesso a exames e médicos, evidenciando lacunas preocupantes no sistema de saúde. A maioria dos respondentes são pessoas pretas.

 

Um ponto crucial ressaltado na pesquisa é o tempo de deslocamento até as Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), onde 81% dos entrevistados afirmam levar até 1 hora para chegar nesses lugares. Além disso, 69% relatam a falta de acesso a equipamentos e instituições de saúde, enquanto 73% apontam que os exames demoram muito para serem agendados e realizados.

 

Os números também revelam uma outra realidade, onde 66% dos entrevistados têm familiares e 44% têm amigos que perderam a vida para o câncer. Esses dados não apenas refletem a incidência da doença, mas também ressaltam a urgência de ações para melhorar a prevenção, diagnóstico e tratamento nas comunidades mais vulneráveis.

 

Luciana Holtz, fundadora e presidente do instituto Oncoguia, destaca que é possível observar que o tratamento oncológico oferecido e a consequente expectativa de vida do paciente de câncer no Sistema Único de Saúde (SUS) variam de acordo com o local em que ele é tratado.

 

“A gestão e as políticas de saúde são descentralizadas, o que permite que cada gestor seja livre para estabelecer seus próprios padrões da assistência oncológica. E nem sempre seguem os protocolos clínicos e as diretrizes terapêuticas estabelecidos pelo Ministério da Saúde. Em um levantamento nosso de 2017, chamado de "Meu Sus é diferente do teu Sus", percebemos que algumas unidades do SUS adotam as condutas recomendadas pelo ministério, outras oferecem terapêuticas acima do sugerido, comparáveis ao melhor da medicina privada. Na maioria, a abordagem está abaixo do previsto pelo MS", enfatiza Lucina.

 

Holtz, ainda destaca que como o paciente do SUS não escolhe onde será tratado, dificulta o tratamento, principalmente para pessoas que residem em bairros periféricos e de baixa renda.  Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de novos casos de câncer detectados por ano poderá aumentar em até 35 milhões até o ano de 2050, representando um aumento de 77% em relação aos 20 milhões identificados pela organização em 2022. Os países com menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) devem registrar maior crescimento da doença, com aumento de até 142%.

 

“Lacunas importantes, como a o modelo de financiamento insuficiente para alguns medicamentos, falta de profissionais, demora para agendar consultas e exames, além de outras barreiras, como a financeira e dificuldades de deslocamento necessitam de maior atenção, compreensão, envolvimento e ação da sociedade, mas principalmente de quem toma as decisões para que essas barreiras não impeçam um cuidado efetivo e igual para todos”, finaliza Holtz.


Link
Tags »
Comentários »
Comentar

*Ao utilizar o sistema de comentários você está de acordo com a POLÍTICA DE PRIVACIDADE do site https://globalesg.com.br/.
Fale com a gente pelo Whatsapp
Atendimento
Precisa de ajuda? Escreva o que precisa