02/02/2024 às 09h30min - Atualizada em 02/02/2024 às 09h30min

Pesquisa avalia efeitos da exposição de crianças a homicídios

Psicanalista avalia que exposição à violência transforma crianças em adultos com ansiedade, depressão e pânico

Bianca Rocha
Bianca Rocha
Envato
Uma pesquisa publicada no Journal of Child Psychology and Psychiatry, veiculado pelo NEXO Jornal Políticas Públicas em parceria com diversos pesquisadores, avaliou os efeitos da exposição à violência sobre o desenvolvimento de crianças pequenas em comunidades de baixa renda em São Paulo, em 2023. O “homicídio” foi a violência considerada foco do estudo, sendo como o crime de maior alarde, causadores de estresse em moradores e com maiores impactos em crianças. 

A pesquisa combinou dados do Coorte de Nascimentos da Região Oeste (estudo ROC), da Universidade de São Paulo, com o projeto de  de crianças que nasceram entre 2012 e 2014 no Hospital Universitário da Universidade de São Paulo, com dados de 3.241 crianças, seus responsáveis e seus ambientes domésticos, incluindo o endereço onde moravam na cidade de São Paulo. Além disso, usaram também dados públicos da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo com as datas e endereços de todos os homicídios na cidade.

Através desses dados tentaram encontrar uma correlação entre a distância em que os homicídios ocorriam em locais próximo às crianças estudadas. A relação apontava crianças que presenciaram homicídios a cerca de 600m, 700m, 800m, 900m e 1km. 

O documento aponta ainda que a exposição recente à violência teve efeitos negativos em crianças nas três medições de resultados em autorregulação, problemas de comportamento e competências pré-académicas. Os efeitos da exposição ao homicídio sobre o desenvolvimento das crianças foram equivalentes a aproximadamente sete meses de perdas de aprendizagem. 

Para Patricia Stankowich, psicanalista, psicóloga e especialista na clínica de crianças, falar sobre a infância,  desenvolvimento do corpo e a maneira como a mente se organiza, é falar sobre a possibilidade de desenvolvimento de maneira que ocorram pequenas dificuldades na circulação social quando adulto. É também, principalmente para além de um corpo que está em desenvolvimento. 

“A identificação precoce de vulnerabilidades, riscos e agravos na infância, traz consigo uma chance maior de resultados negativos, fragilidades psíquicas, emocionais e comportamentais na vida adulta. Crianças expostas à situações de violência, medo e desamparo podem ser complicadores no processo de estruturação da personalidade, acarretando em adultos psicologicamente doentes, apresentando pouca empatia, agressividade e inadequação social, além de sintomas como ansiedade, depressão e pânico”. analisa a psicanalista.

Crianças de baixa renda estão diariamente expostas a diversas violências que ocorrem no país. O seu desenvolvimento parte da premissa do que se vê e se ouve. Do que é ensinado. A situação atual exige a criação de políticas públicas. A psicanalista avalia que é vital fazer intervenções nas comunidades, visando integrar as famílias em estratégias de promoção à saúde mental. 

“Recursos podem ser realizados em parcerias com escolas do bairro, órgãos, instituições públicas e privadas da comunidade, igrejas, implementação de oficinas educativas para compreensão do contexto, na formação de grupos terapêuticos de autoajuda e oficinas com aulas de arte e esportes. Esses recursos podem ser implementados por familiares e comunidade, visando uma melhor qualidade de vida das crianças”, finaliza Stankowich.
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